Reservatório de Corumbá IV está se tornando, cada vez mais, um destino relevante de lazer e ecoturismo no Centro-Oeste brasileiro. Com a crise em sua rota religiosa, moradores esperam que o turismo gere um novo ciclo de desenvolvimento para a cidade
Um em cada dez empregos no mundo são gerados pelo turismo, diz o Ministério do Turismo. Um dos passeios mais escolhidos pelos adeptos do ecoturismo é o Brasil que, com sua diversidade natural, se consagra como um destino internacional importante, embora exista espaço para crescer ainda mais, segundo os especialistas. O Estudo da Demanda Turística Internacional revela que das pessoas que visitaram o Brasil no ano de 2018 com motivação de lazer, aproximadamente 17% correspondem ao Ecoturismo e Turismo de Aventura.
Essa é a nova âncora de Abadiânia, cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, a 105 quilômetros de Goiânia e a 140 de Brasília. Nos últimos 40 anos, até o final de 2018, sua economia foi baseada no turismo religioso. O município, que era rota mundial de peregrinos em busca de tratamento espiritual promovidos pelo médium João de Deus, viu sua economia arrefecer após a prisão do líder mundialmente conhecido.
No passado, cerca de 90 a 95% dos turistas tinham motivações religiosas. A cidade chegava a receber um fluxo de até quatro mil fiéis semanalmente, em visita à Casa Dom Inácio de Loyola. Hoje, os registros não contabilizam 150 pessoas. Conforme constatação do prefeito José Diniz, a queda no número de visitantes representou para a cidade o fechamento de dois mil postos de trabalho, relegando cerca de 10% da população ao desemprego.
Por outro lado, a estruturação, em 2006, da Usina Hidrelétrica Corumbá IV, trouxe uma nova perspectiva para o município. Com a formação do lago para o reservatório, com 173km², a cidade acabou ganhando um novo atrativo, que agora passa a ser sua menina dos olhos. Do total, 27,39 km² da área alagada está em Abadiânia. O lago Corumbá IV permite, além dos passeios de barco e lancha, a realização de uma série de esportes náuticos e aquáticos como canoagem, caiaque, standup paddle, wakebord, jet ski, mergulho, pescaria entre outros.
“Atualmente, nosso objetivo é depositar as energias para explorar as potencialidades do Lago Corumbá IV e consolidar o ecoturismo na cidade porque acreditamos que ele trará novas oportunidades de trabalho e renda para a população”, diz o prefeito. O município já pavimentou quase a totalidade da Rodovia GO-474 que liga a cidade ao lago. Dos 23 quilômetros, 19 já estão prontos. O restante está em obras pelo governo estadual.
Outra estratégia da prefeitura são as parcerias com setor privado para o desenvolvimento da região. Um dos projetos que está sendo preparado é o Escarpas Eco Parque, o primeiro com o conceito de ecoturismo no Lago Corumbá IV. A área, onde está sendo desenvolvido o complexo pela Tropical Urbanismo e a Ferroeste, tem cerca de 1 milhão de metros quadrados. Ela está inserida em uma propriedade maior do grupo com 11 milhões de metros quadrados, sendo aproximadamente 10 mil metros lineares banhados pelo lago e por suas cascatas, corredeiras, piscinas naturais e a vasta riqueza do Cerrado Brasileiro.
Neste verdadeiro oásis natural, os empreendedores preparam espaços para experiências de ecoaventura, clube, marina com operador especializado e um condomínio ecológico fechado. O projeto promete transformar a cidade no novo destino de aventura e lazer do eixo Goiânia-Brasília, uma região que congrega uma população de mais de seis milhões de habitantes, ávidos por lazer, descanso e diversão nas horas vagas.
“A Tropical Urbanismo tem como tradição a sua preocupação em desenvolver projetos que contemplem a questão ambiental. Nesta nova proposta, pretendemos valorizar ainda mais a área marcada pelas suas belezas naturais, oferecendo a infraestrutura necessária para transformá-la no novo roteiro de turismo de lazer e de casas de veraneio para todo Centro-Oeste brasileiro”, vislumbra Leandro Daher, diretor da empresa.
Os apreciadores da navegação e pescaria ganharão o respaldo da instalação da marina, com serviço completo de ancoragem, resgate de embarcações, limpeza e manutenção das lanchas. Para os eco-exploradores, o empreendimento oferece mais de 10 quilômetros de trilhas que conduzem à tirolesa, à estação de arvorismo e a um mirante com uma paisagem exuberante.
Um completo clube, onde estão sendo investidos em torno de R$15 milhões, contará com restaurante assinado por chef, parque aquático infantil Ecoboom, balanço infinito, quadras de esporte, lounge gourmet e bar temático. Além da instalação de um mall de conveniências para facilitar as aquisições de última hora.
O empreendimento também está sendo preparado para receber investimentos de uma referenciada rede hoteleira, permitindo ampliar o acesso de turistas às belezas e toda a diversidade presente no Cerrado goiano.
À frente do paisagismo do Escarpas Eco Parque está o consultor em biodiversidade nativa e arqueologia botânica para restauro da paisagem natural, o botânico Rodrigo Cardim, conhecido nacionalmente como Dr. Árvore. Está em suas mãos a destinação de mais de 20 mil mudas que integrarão o Cerrado Nativo presente na região: elas formarão um bosque frutífero para compor o fundo dos lotes do condomínio horizontal.
Conforme explica o gestor comercial do Escarpas Eco Parque, Lucas Rodrigues, diretor também da ImobShare, empresa especializada em segunda moradia, o projeto atende uma megatendência identificada no turismo atual, que é a busca pela experiência e a preocupação com a sustentabilidade – segundo constatou pesquisa do Booking. “Nossa intenção é criar uma experiência que liga a ecoaventura, o esporte aquático, a preservação ambiental e o turismo de aventura e lazer”, pontua.
A implantação da primeira fase do Eco Parque deverá receber cerca de 500 terrenos para casas de veraneio e um público estimado em 2000 pessoas, além de clube e espaço para atividades de ecoaventura. Os lotes escarpados permitem vistas singulares, ora do lago, ora da mata nativa que circunda o empreendimento.
“Haverá vagas de emprego para a etapa de obras do complexo e da construção das casas por seus proprietários. Posteriormente, a demanda virá para a manutenção das residências e na operação do empreendimento”, afirma Rodrigues. Empregos diretos e indiretos podem chegar a 5000 no total somente na fase de obras.
Empresários locais migram de atividade
Abadiânia ocupa a 87ª posição no ranking do Produto Interno Bruno (PIB) em Goiás de 2017, e vinha crescendo ao longo dos anos. Em 2018, anterior à denúncia envolvendo o líder espiritual, os negócios locais geraram R$ 2,5 milhões, hoje não passam de R$1,6 milhão. Um dos setores que mais sofreram com a crise foi artesanato. Empresas que atuam na área reduziram o faturamento em 83%.
Com a crise, os moradores já estão mirando nas oportunidades abertas pela movimentação turística no entorno do lago, o que inclui as iniciativas do mercado imobiliário. “Temos visto empresários locais mudarem de área para investirem no comércio de materiais de construção e aluguel de maquinários. Bem como, o interesse de pessoas em se qualificarem para empregarem a mão de obra nos projetos que estão aterrisando na cidade. A transformação da orla do lago em um reduto de lazer e turismo nos permite vislumbrar uma mudança de página na história do município, onde seremos lembrados pelas nossas belezas naturais e pelo acolhimento de nosso povo”, analisa o prefeito José Diniz.
Uma amostra dos efeitos positivos do turismo já é percebida pelos moradores do distrito de Vila Piauí, que fica a 7 quilômetros do lago de Corumbá IV. A região passou a abrigar algumas empresas como padaria e material de construção, que antes não existiam, com objetivo de atender a demanda advinda do aumento do número de pessoas que buscam lazer na região.
Abadiânia também integra o Mapa do Turismo Brasileiro, foi contemplada pelo Programa Mais Turismo, lançado em março pelo Governo de Goiás. A expectativa é que outros investimentos públicos cheguem para desenvolver ainda mais o turismo local.
Fotos e conteúdo: colaboração da Comunicação sem fronteiras